quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

sábado, 5 de novembro de 2022

Hoje quis mudar de tema

Hoje quis mudar de tema,
e perguntei para o vento
o que ele quer do poema.
Há silêncio no momento.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Pintou um L

de livro
de liberdade
de democracia

de alegria
de pluralidade
de combate à tirania

de não à violência
de não à discriminação
de não à intolerância

de união de antigos oponentes
de missão a ser cumprida
de respeito às diferenças

de humanidade
de sorrisos largos
de esperança enternecida

de abraços mais fraternos
de um novo alvorecer
de melhores tempos lindos

de não à falsa moral
de não ao sigilo espúrio
de não à perversidade

de verdadeiros valores
de compromissos sinceros
de atenção aos vulneráveis

de cuidar de quem precisa
de dar amor ao próximo
de melhores oportunidades

de educação e saúde
de previdência e cultura
de renda e dignidade

de uma ordem mais humana
de um progresso progressista
de justiça social

definitivamente
pintou um L
de muita coisa melhor

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

O mal do mau

Amanhece
o sol revela o horizonte
à frente do caminho

O primeiro passo
ficou para trás
e o segundo está se formando

À beira do caminho
há sombras e armadilhas
mas nós vamos de mãos dadas

Assim nossos pés não errarão
e assim saberemos o valor
por que seguimos

Se eles vão nos atacar
vamos lá nos defender
já ficamos calejados

Não há ódio que nos tire
o caminho a percorrer
pois há muitos lados bons

O lado mau
é o que usurpou os nossos símbolos
e nossas cores

O lado mau é o que propaga
a intolerância
na intimidação

O lado mau
é o que pretende a autoridade
para te fazer de servo

enquanto grita liberdade
(a falsa liberdade)
e te ilude e te domina

O lado mau é o que te cega
enquanto prega o que não crê
e te assedia

O lado mau
faz jogo sujo
enquanto ri da tua cara

é o que te mata
e te despreza
o que faz troça do teu morto

é o que acomoda
as pilhagens e os esquemas
em sigilos de 100 anos

O lado mau é o sem-vergonha
o covarde, o traiçoeiro
o que te deixa no caminho

o que rouba o teu futuro
tira a escola do teu filho
e te deixa vulnerável

o que te abusa
o que te ofende
o que te compra à cara dura (e paga mal)

O lado mau tem cara de mau
é mau, muito mau
E faz mal

sábado, 13 de agosto de 2022

Em carne viva

A caminho do trabalho.
- O mundo é injusto, sempre foi e sempre será. E você não vai mudar isso. Então, cuide da sua vida. Se garanta!
O adulto falava para o jovem com fluidez, sem notas de emoção, sem  constrangimento ou dúvida… Como diria meu pai, “de cutampô”.
Sempre achei graça nesta expressão, desde criança, mesmo que não saiba até hoje a origem e o significado explícito. Basta-me o implícito, aquele que resulta do cruzamento das minhas referências com a situação do momento em que a expressão é dita.
Sem ter certeza da forma correta de sua escrita, “cu tampô”, “cutam pô”, “cu tam pô” ou “cutampô”, adotei a última, de ouvido e por pura intuição.
Mas isso não chega a me incomodar, não será um defeito de grafia que fará mal a algum leitor enfermo ou mais sensível.
Há coisas piores.
Os efeitos do “aberracionismo” que está nos afetando, forçosa e cotidianamente, por exemplo. Efeitos esses que acredito serem, em grande parte, decorrentes do seguimento às cegas do tipo de conselho do adulto ali de cima.
O morticínio da pandemia de COVID, a dureza da fome, a amplitude da miséria e da ignorância, a violência à flor da ideia, o ataque que mina a democracia, a corrupção e a estupidez que grassa à nossa volta. E o descaso mítico que essas coisas evocam.
Basta que cada um se garanta. Assim, estará tudo bem. É esta a lição simples e direta que está forjando uma geração (ou mais) de egoístas e indiferentes, principalmente ao sofrimento do outro, mesmo que este outro habite o mesmo teto, compartilhe o mesmo tempo ou respire o mesmo ar a que todos temos direito.
Não importa o direito de todos, mas, apenas, o que cada um consegue garantir para si.
Percebo então que o adulto e o jovem do início já não estão no meu campo de visão. Passo pela praça Generoso Marques, onde pombos e pessoas sem rumo se encontram, observam as fontes, as floreiras e uns aos outros. Onde outras pessoas, com seus pertences e suas dores, se deitam à espera de um descanso e se levantam ao lado do descaso. Onde o tráfico interrompe o trânsito. Onde a prostituição demarca os confins da ilusão. Onde um ex-prefeito de bronze, gordo, forte e bem trajado, assiste do passado a realidade de sempre, garantido em seu pedestal.
Penso em fazer um protesto, um manifesto, ou apenas um gesto para espantar esta cena da minha frente e da minha mente. Mas me lembro que sou fraco, acomodado, que preciso me garantir e, sendo assim, lembro também que suportar isso tudo em carne viva ainda é melhor do que em carne morta.