terça-feira, 13 de outubro de 2020

Os números que ainda não foram meus

Todos os números no intervalo de 0 a 59 já me pertenceram. O 59 ainda me pertence. Fora isso, não houve outra sequência. Não que eu saiba.

O número que me despertou para a importância que os algarismos combinados (ou não) teriam na minha vida, foi o 0186. Era o número do primeiro relógio que tive, presente do meu pai. Sei muito bem de um conceito matemático que afirma que os zeros à esquerda não têm valor. Mas é falso, simplesmente falso. Não o fosse, o primeiro número importante que me pertenceu seria apenas 186, e não 0186. E, não o fosse, um conhecido personagem tragicômico não chamaria seus filhos de zeros xis (e, neste caso, realmente representam valor).

Mas há números mais importantes.

O meu primeiro salário foi 6.285 de uma moeda que já não existe. A placa do meu primeiro carro foi 1290, com duas letras das quais não me recordo. O número do primeiro telefone que tivemos em casa foi 24-0599. O ano da minha formatura foi 1982. E o do meu nascimento foi 1961. Já dava para suspeitar, não é mesmo?

Quando viemos morar em Curitiba, nosso apartamento ficava no 1º andar do número 1.152 de uma rua central. O número da minha carteira de identidade é pouco menor que 2 milhões. O do meu CPF termina com o algarismo 9 e tem o controle 72. A minha matrícula no trabalho era 103, mas passou a ser o meu RG.

Calço 40, mas alguns dos meus calçados são 39 ou 41, dependendo da forma. Visto camisas número 2, mas algumas são 3. Até há pouco tempo, minhas calças eram 38, mas agora são 40 e também admitem alguma variação. Uso óculos com lentes de graus diferentes, uma de 5º e outra de 6º.

Meu celular tem um número que não vou citar aqui, por motivos óbvios.

Tenho 2 filhos, e não os chamo por números. E tenho 1 amor em construção.

Já votei nos números 12, 13, 18, 21, 23, 43, 45, 50, 65. E mesmo não tendo votado no 17, já levei alguns 171 na testa. (Parece inevitável!) Para este ano, estou entre o 12 e o 50.

Já fui enganado inúmeras vezes e ainda o serei outras tantas.

Os números relacionados à corrupção não param de crescer. E, assim como o número de cúmplices, é impossível citá-los com precisão.

O número de hectares queimados sobe que nem fumaça.

Os números da inflação não são críveis. Já os do boletim FOCUS parecem revelar que a realidade não está prevista.

Em 2020, o IBGE não saberá de todos os números.

A data de hoje é representada pelo número 44.117 em planilhas eletrônicas. E estamos em quarentena há 210 dias.

O número 2 do Ministério da Saúde (disseram que foi promovido para número 1, mas não há provas disso) tentou ocultar diversos números. Eles são conhecidos como subestimados.

Ah, sim, os de hoje são 309 e 150.998. Felizmente não pertenço a eles.


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