Há exatos 3 anos (156 semanas) a
previsão do mercado para o PIB do ano de 2021 permanece no patamar de 2,5%. Ou
seja, há exatos 3 anos o mercado não identificou nenhuma razão para julgar que
o PIB brasileiro de 2021 poderá ser maior ou menor do que a última estimativa
registrada. Melhor dizendo, há exatos 3 anos a política econômica (pensada,
praticada ou desejada) não produz nenhuma alteração de perspectiva no mercado.
O fato acima descrito pode ser
confirmado com a leitura do Boletim Focus
divulgado em 06/03/2020 (relatório completo disponível para acesso na internet,
no endereço https://www.bcb.gov.br/content/focus/focus/R20200306.pdf).
O Boletim Focus é um relatório que o
Banco Central publica contendo a compilação das expectativas de diversos
agentes econômicos que são popularmente chamados de mercado. Os dados deste
boletim têm por base pesquisa semanal feita pela autoridade monetária junto a
estes agentes.
E o que a estagnação por 3 anos na
estimativa do mercado para o PIB nos revela?
Bem, além desta pergunta, surgem
necessariamente outras duas: 1) Há política econômica em curso no Brasil cujos
efeitos possam influenciar o nível de atividade econômica e, consequentemente,
o PIB? 2) O mercado está preocupado em analisar os efeitos da política
econômica em curso e mensurar os seus reflexos na atividade econômica?
Lamentavelmente, as respostas possíveis
para estas questões são negativas. Não, não há política econômica relevante em
curso no Brasil. E, não, não há interesse do mercado em mensurar os efeitos da
política econômica sobre a atividade.
Pois é, o número de 2,5% para o PIB de
2021 não passa de uma estimativa pró-forma, para cumprir tabela, ilusória,
enganadora, um chute...
Isto é ruim. Mas a realidade é ainda
pior.
Até agora, nem mesmo os recentes e dramáticos
eventos econômicos mundiais têm tido reflexos nas estimativas do mercado para o
PIB brasileiro. E, claro, também não têm provocado nenhuma reação dos
responsáveis pela condução da política econômica, que não mudam o já
desfigurado discurso de reformas…
Reformas?
Vendidas para o grande público como
medidas de salvação da economia nacional, o que se viu até agora não está nada
em linha com o anunciado. Ao contrário. A reforma trabalhista suprimiu direitos
históricos, reduziu remunerações, criou subclasses de trabalhadores, atacou a
organização sindical e, obviamente, prejudicou a capacidade de organização dos
trabalhadores que já estavam organizados e impôs novos obstáculos à organização
daqueles que jamais estiveram organizados. Mas não gerou os empregos
anunciados. A reforma previdenciária também suprimiu direitos, achatou a renda
de aposentados (renda destinada quase que integralmente ao consumo e,
portanto, geradora de atividade econômica) e ameaça impedir que uma grande
parcela de trabalhadores jamais alcance a situação de aposentado, o que será um
confisco de parte de sua renda, pois é possível que muitos contribuam para a
previdência social e nunca venham a receber algum provento de aposentadoria em
contrapartida.
A reforma tributária não passa de uma
piada que mexeria com os grandes interesses do mercado e, por isso, não sai do
lugar.
E a reforma administrativa que está
sendo gestada pretende amordaçar os servidores públicos e evitar denúncias e
investigações de irregularidades praticadas no andar superior da administração
pública. Vale lembrar que o combate à corrupção até então realizado só foi
possível porque ainda existem garantias que permitem que servidores públicos
denunciem e investiguem atos irregulares na aplicação dos recursos públicos e
no uso da máquina pública. E, claro, vale lembrar também que medidas de combate
à corrupção são conduzidas por servidores públicos.
Mas voltemos ao PIB.
Pois bem, se não há política econômica
com efeitos relevantes sobre a atividade, e se o mercado não tem estimativas
também relevantes para o nível de atividade econômica, nosso PIB está à deriva,
ao sabor dos ventos vindos de outras bandas.
O pior desta constatação é que o PIB é
apenas uma ferramenta estatística que mede a realidade. E o que de fato está à
deriva é o destino de toda a população que vive, trabalha e tenta planejar seu futuro
em nosso país.
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