Procurando saber das últimas notícias,
deparei-me com a volta de uma teoria muito batida que diz que uma árvore
envenenada produz apenas frutos envenenados e, em consequência, estes devem ser
descartados.
É, estão falando em anular as provas de
uma série de crimes cometidos contra a sociedade. Fazer de conta que nada foi
provado. Fazer de conta que nada se sabe sobre os crimes e seus autores. Fazer
de conta que somos severos contra quem extrapola os limites e comete crimes
nefastos. Parêntesis: sendo severos apenas contra quem obteve as provas ditas
“ilícitas” de crimes (não são ilícitos também?) cometidos em prejuízo seu, meu,
nosso.
Enfim, fazer de conta que está tudo
bem! E deixar que tudo fique bem para quem sempre esteve bem, não importa como.
E, tendo em vista a figura da árvore
envenenada, resolvi afastar-me deste cenário, olhei de longe e percebi uma
floresta. Sim, árvores habitam florestas! Ao menos era assim quando aprendi.
Vendo esta floresta, descobri diversos
tipos de árvores, de diversos portes, com diversos tipos de folhas e, claro,
produzindo diversos tipos de frutos!
Por exemplo, há aquelas que produzem os
frutos da injustiça, onde os direitos de alguns valem mais do que os de outros.
Há as que produzem os frutos da miséria, onde muitos são condenados a viver sem
qualquer dignidade, em pena perpétua que, aliás, não poderia existir. Há também
aquelas árvores que produzem os frutos da discriminação, onde quem não se
encaixa em determinados padrões sofre as humilhações e violências mais
estúpidas e sem sentido. Há as que produzem os frutos do autoritarismo, onde só
te resta obedecer, mesmo que se trate de questões idiotas. As que produzem os
frutos da ignorância, multiplicando a legião de ignorantes que, por exemplo,
regam estas mesmas árvores. É uma densa floresta, e há muitos outros tipos!
Andei pela floresta e encontrei
diversos frutos caídos. Vi, por exemplo, frutos que pereceram em filas de
hospitais cujas verbas foram roubadas e que por isso não tiveram o socorro que
lhes fora prometido. Frutos que envelheceram mal formados por escolas cujas
verbas também foram roubadas e que por isso não receberam os ensinamentos que
poderiam ter-lhes proporcionado uma velhice melhor. E muitos frutos assustados,
com medo (ou vergonha) de ser o que são.
Então me perguntei se todas aquelas
árvores que produziram esses frutos estariam também envenenadas. Quis saber que
tipo de veneno teria sido lançado sobre a floresta, fazendo com que cada tipo
de árvore gerasse frutos assim tão imperfeitos.
Por fim, caído em minha impotente
humanidade, sob as sombras da floresta, pus-me a cogitar: quais dessas árvores
devem ser derrubadas?
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