O título desta crônica pode
parecer estranho, mas há razão para tudo, qualquer coisa.
Nenhuma manifestação de
arrogância é arrazoada, pois a soberba é conduta típica de quem
não tem o juízo no lugar, de quem não percebe que o mundo é
plural, de quem não enxerga os outros e suas razões.
Os outros podem estar errados em
muitas situações, mas nós também podemos estar errados em outras
tantas. E é a consciência de que somos todos humanos e, portanto,
todos falíveis e iguais em essência, que nos permite ser razoáveis
ao fugir da arrogância.
Mas, ao que me parece, não é
isto que se vê quando se analisa o grupo que conduz ideologicamente
o “novo” governo. Os influenciadores ideológicos. Os que
defendem as estranhas bandeiras que contestam, por exemplo, o
heliocentrismo, a física quântica e, agora também, a história
nacional e mundial.
Não sei que relação estas
bandeiras possam ter com as propostas de “reformas” que alguns
aguerridos arrogantes têm se batido em defesa. Mas desconfio que
haja alguma ligação, sutil, mas real.
Por exemplo, a deformação da
previdência social que o ministro da economia tanto se esforça em
impor. Parece-me que a negação dos princípios da solidariedade e
do mutualismo, mundialmente adotados em sistemas previdenciários,
tem alguma ligação não muito bem visível com a negação da
história nacional, no ponto relativo ao período da ditadura (que
outro nome usar?), de 1964 a 1985.
Naquele tempo, não havia debates
no congresso ou na sociedade. As decisões eram tomadas e implantadas
na força da caneta (ou do canhão que ela simbolizava). Passava-se
por cima das questões nacionais como um tanque de guerra passa por
cima de qualquer coisa em seu caminho.
E as recentes cenas da sabatina
perante a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara me deram
a impressão de que o ministro se sente como se fosse um tanque de
guerra. Assim: ele teve uma ideia e segue como se não houvesse
outras possibilidades de se abordar o tema da previdência social,
como se qualquer abordagem diferente fosse apenas um obstáculo a ser
vencido por suas poderosas esteiras.
Num ato falho, ao perguntar se os
deputados tinham medo de alterar as regras propostas para os
militares, não sei bem se ele deixou transparecer o seu próprio
medo, já que ele não enfrentou os militares quando do envio da
proposta, ou se quis dizer que também os militares são apenas um
pequeno e desprezível obstáculo.
A arrogância com que o ministro
se comporta é, como toda arrogância, desarrazoada. Falta-lhe razão.
E falta razão, a ele e aos que
com ele conduzem o plano ideológico em marcha, ao pretenderem
destruir com uma canetada todas as garantias sociais duramente
conquistadas por nosso povo ao longo do tempo. Isso é a negação da
história, do trabalho, dos valores construídos por todos nós.
Afinal, estávamos todos errados? Será que temos que ser todos
internados? Só estes poucos (ainda bem!) “iluminados” é que
estão certos?
Este ministro é um estereótipo
do chefete que muitos já tivemos que enfrentar, aquele cara que
precisa manter a fama de mau, que bate na mesa e diz: “manda quem
pode e obedece quem tem juízo”.
Pois não é justamente por não
ter razão que os autoritários precisam da força?
E é óbvio que há uma razão
para eles serem assim. Mas isso é coisa para um psicanalista. Eu
fico por aqui.
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