Há muito tempo conheço uma vírgula que não sabe ao certo o seu lugar. Por pura afinidade, ficamos amigos e ela passou a passear comigo por todo canto. Ela tem a mania de parar em qualquer ponto, sem preferência por alguma posição especial. Mas às vezes essa mania se inverte e ela não para em lugar algum. Suas manias já provocaram inúmeras confusões e mal-entendidos. Não entre nós, óbvio, que nunca nos desentendemos, tal é a afinidade que nos liga.
Já perdi a conta de quantas vezes ela me pôs em lugares inusitados e me mostrou sentidos que eu não encontraria sozinho. Confesso que nem sempre compreendi o que ela me mostrou. Houve também ocasiões em que a procurei em vários lugares, sem sucesso. E foram tantas outras vezes em que tentei levá-la a lugares onde ela não queria ir!
Mas nem por isso nos afastamos; continuamos amigos.
Como em toda amizade, com o tempo, um vai aprendendo a conhecer melhor o outro. E assim também foi conosco, eu e a vírgula. E ainda tem sido. E mais será, garanto.
Conhecer um amigo é bom, ajuda a compreender suas carências e excessos, mas, também, é ruim, pois torna tudo muito previsível e tira o sabor das surpresas corriqueiras. Conhecer, compreender, prever, entender, são verbos que parecem ter mais coisas em comum do que aparentam: conjugados em certa ordem podem resultar um esquecer, por derivação da desnecessidade de se pensar, do automatismo que toma conta das coisas cotidianas. Mas, em um estágio mais avançado, pode nos dar a possibilidade de ir além do amigo, passar de lado e, sabem o que fazer? Surpreender!
Bem, não sei bem o que me levou a escrever tudo isto; o que isto quer dizer, o que pode ser...
Tomo por uma homenagem à minha amiga, a vírgula, que não sabe onde parar.
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